Foi um dia, e outro dia, e outro ainda. Só isso: o céu azul, a sombra lisa, o livro aberto. E algumas palavras. Poucas, ditas como por acaso. Eram contudo palavras de amor. Não propriamente ditas, antes adivinhadas. Ou só pressentidas. Como folhas verdes de passagem. Um verde, digamos, brilhante, de laranjeiras. Foi como se de repente chovesse: as folhas, quero dizer, as palavras brilharam. Não que fossem ditas, mas eram de amor, embora só adivinhadas. Por isso brilhavam. Como folhas molhadas. Eugénio de Andrade , In Os Sulcos da Sede, 2001 desenho de Ricardo Gomes
No poema ficou o fogo mais secreto. O intenso fogo devorador das coisas. Que esteve sempre muito longe e muito perto. Sophia de Mello Breyner Andresen