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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2019

Amor

Na mágoa dos dias amor nasce-te uma ruga mesmo de alegria António Reis,  Poemas Quotidianos , Tinta da China, 2017.

A vida

VIVE  As VIDAS, UMA A  UMA, sem os sonhos confundir; eu vou para baixo, para cima, sou outro, sem outro ser - Paul Celan, in A Morte é uma flor Livros Cotovia Imagem , Maria João Alves

Lâmina na alma

Um sol branco e desapaixonado brilhou lá no alto, no céu. Na altura, desejei afiar-me nele até me tornar santa e esguia como uma lâmina duma faca. Sylvia Plath, in A Campânula de vidro Imagem de Maria João Alves

A grande paz

Um poema cresce inseguramente na confusão da carne, sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, talvez como sangue ou sombra de sangue pelos canais do ser. Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência ou os bagos de uva de onde nascem as raízes minúsculas do sol. Fora, os corpos genuínos e inalteráveis do nosso amor, os rios , a grande paz exterior das coisas, as folhas dormindo o silêncio, as sementes à beira do vento, – a hora teatral da posse. E o poema cresce tomando tudo em seu regaço. E já nenhum poder destrói o poema. Insustentável, único, invade as órbitas, a face amorfa das paredes, a miséria dos minutos, a força sustida das coisas, a redonda e livre harmonia do mundo. – Em baixo o instrumento perplexo ignora a espinha do mistério. – E o poema faz-se contra o tempo e a carne. Herberto Helder

Jardim

Alguém diz: "Aqui antigamente houve roseiras"- Então as horas Afastam-se estrangeiras, Como se o tempo fosse feito de demoras. Sophia de Mello Breyner Andersen Poesia Assírio & Alvim Imagem: Maria João Alves

A Flor

A pedra. A pedra no ar, que segui. O teu olhar, tão cego como a pedra. Nós fomos mãos, esvaziámos a treva, encontrámos a palavra, que subia do verão: flor. Flor – uma palavra de cegos. Os teus olhos e os meus olhos: vão em busca de água. Crescimento. Folha a folha acrescenta as paredes do coração. Uma palavra ainda, como esta, e os martelos rodopiam ao ar livre.  - Paul Celan (in «Sete Rosas Mais Tarde – Antologia Poética», tradução de João Barrento e Y. K. Centeno, Cotovia) Imagem: Maria João Alves

Desejo

A brasa do teu corpo a queimar a palma acesa da mão do meu desejo Maria Teresa Horta Antologia de Poesia Erótica As palavras do corpo Publicações Dom Quixote Imagem: Maria João Alves

Carícia Lenta

O ombro nu e não pintado brilha a noite De veludo, para a qual a mão vogando Como peixes ou barcos aéreos voaria, Para mim, para uma carícia lenta. Manuel Gusmão in Pequeno Tratado das Figuras foto Maria João Alves

É isso que a vida é

Às vezes a chuva é sol Quando clara se desata Em poesia dura de prata De nuvens claras sem sol. Então dá calma e alegria E tanto faz o chover Como haver luz a encher O céu azul de alegria. A tristeza às vezes é Uma alegria que nasce Sob o acaso de um disfarce, E é isso que a vida é Fernando Pessoa In  Poesia 1931-1935 e não datada  , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva foto Maria João Alves

Sombra e solidão

Somos folhas breves onde dormem aves de sombra e solidão. Somos só folhas e o seu rumor. Inseguros, incapazes de ser flor, até a brisa nos perturba e faz tremer. Por isso a cada gesto que fazemos Cada ave se transforma noutro ser. Eugénio de Andrade In  As Mãos e os Frutos