Há uma rotação do teu corpo – Andas pela casa: és um leve rumor sob o silêncio um rumor que alumia a sombra silenciosa; na sala , o homem quase surdo quase cego ouve-te, julga reconhecer-te: vens aí. Estás aqui. O intervalo de tempo já começou: há uma rotação no teu corpo que me exclui do mundo e entretanto é feita para mim; atinge-me à velocidade da luz. E eu o homem quase surdo quase cego sou tomado pelo vento do fogo que me consome até ser apenas a última brasa: pequenas ravinas de luz o incêndio restante sob a exausta crosta da terra Estavas, estiveste ali. O tempo recomeça. Apareces e desapareces. Como a luz do farol disparando no céu sobre as casas ou como o anúncio luminoso do prédio em frente que varre intermitente a obscuridade do quarto no filme. Quando voltará? É como se soubesses que voltará, sim, e que não, não poderá voltar. Quando, e se voltar, serei eu talvez quem já lá não está. Quando é quando? Quanto tempo ainda poderá o mundo voltar à po...
No poema ficou o fogo mais secreto. O intenso fogo devorador das coisas. Que esteve sempre muito longe e muito perto. Sophia de Mello Breyner Andresen
Só amamos o que desejamos e só desejamos aquilo que nos falta, dixit Platão. Isto é: o amor é o desejo permanente pelo que nos falta. A alma gémea. Por isso, o poema imola o desejo e o corpo pelo ardor que os unifica - para triunfar sobre a provação da ausência.
ResponderEliminarBeijo de geometria insubordinada meu amor